13 de nov. de 2008

Peixe fora d'água

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fonte: As Aventuras da ASBO de Jesus

Desde meados de 2006 não participo de uma congregação convencional. Dessas com um templo, bancos, pastor, púlpito, equipe de louvor, dízimo e tudo mais. De uma metástase espiritual eu concebi e articulei muitas considerações que antes mantinha bem trancafiadas dentro de mim.

A mudança de cidade me proporcionou essa oportunidade de reavaliar a minha eclesiologia. Porque? Porque depois de 7 anos envolvido até o pescoço numa igreja da qual todo o meu círculo de amizade e convívio social resumiam-se na membresia daquela comunidade, mudar de cidade me colocou numa situação bastante delicada em relação à que igreja frequentar.

Desde então, em novos ares eu cheguei a visitar e participar de muitas igrejas diferentes. Como ainda fazia parte de um ministério de "adoração", éramos convidados a "ministrar" em vários eventos de louvor e adoração na cidade. Mas, sempre que éramos convidados para tocar em alguma igreja vinham com um papo de perguntarem quem era nossa cobertura espiritual. E como ainda não havíamos nos fixado numa igreja, dizíamos que nossa cobertura era o pastor da igreja da qual fui membro por 7 anos na outra cidade. Claro que não falávamos desse pequeno detalhe de ele ser de outra cidade e tal, mas... acabávamos tocando na igreja do cara!

Então, eu só fui observando todo esse mecanismo e refletindo na medida do possível nas incongruências que assistia. Não conseguia encontrar sentido algum em frequentar uma igreja por frequentar. Sem vínculos, sem amizades, sem envolvimento de verdade. A bem da verdade seria muito difícil eu encontrar o que tinha na outra cidade. E isso era fato!

O interessante é que crescemos e passamos a enxergar tantas inverdades e tantas formas de manipulação que nos levaram a ir de encontro à Verdade. Agora, falo por mim. Em um certo período ainda me esforçava para ir à igreja porque na minha consciência algo me dizia que era isso que devia fazer. Mas, meu espírito definhava... eu ia, mas não encontrava vida, não encontrava acolhimento, não encontrava sentido naquilo. Era muito engessado para mim!

Em consequência desse meu infortúnio espiritual comecei a ler mais do que já lia. Orar mais do que já orava(pouco por sinal) e uma fome de saber mais me apossou de tal forma que não pude resistir a buscar respostas para tanta coisa que carregava, tanta dúvida dentro de mim sobre Deus, igreja, fé e pessoas.

O fato é que hoje não consigo participar mais de uma igreja nesse molde. Simplesmente não engulo. Não dá! Sinto-me hipócrita! Sinto-me em outro mundo! Fora do lugar... um peixe fora d'água! Não estou dizendo que sou bom demais para a igreja... com certeza isso não é verdade. Estou dizendo que não me encaixo mais nesse esquema. Não quero dizer aqui que deixem de frequentar suas igrejas. Por favor, não me interpretem mal. Estou falando de mim! Já não me sinto confortável sentado em um banco, com uma Bíblia e ouvindo um pastor pregar algo sem pé nem cabeça por quase 2 horas. Não consigo mais aceder aos gracejos do ministrante de louvor. Eu já fui um, sei como funciona. Sei como é... não dá pra engolir isso! Não suporto mais que me façam de fantoche: erga as mãos, adore, pule, cante, brade, grite, aclame, louve, anime... just do it! Já cansei desse tipo de "adoração espontânea" que de espontânea não tem nada!

Conheço muita gente que não consegue conceber um relacionamento com Deus sem a "igreja" na equação. Se estão frequentando um templo presumem que estão perto de Deus. Se não estão frequentando sentem-se desviados dos caminhos do Senhor! No mínimo desviados dos caminhos do pastor...

No final das contas, aprendi uma valiosa lição. Sempre fiz parte da Igreja, e sempre comunguei com meus irmãos. Sempre oramos juntos, celebramos juntos, choramos juntos, cantamos juntos, adoramos juntos... e não necessariamente temos de ostentar e sustentar um templo para isso!

9 comentários:

  1. Pensando bem, nunca tive um 'círculo social' dentro da instituição cristã medievalesca.

    Talvez eu seja muito frágil e vulnerável para ostentar um controle de várias personas dentro de uma única vida.

    Ou talvez a preocupação com refazer o Éden tomará tanto tempo que não haverá tempo para teorizações, ainda estou em transição,

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  2. Tiago,

    Seu testemunho revela a situação em muita gente se encontra hoje. A um tempo atrás iniciei no meu blog uma série chamada de "decepcionados com igreja", com alguns testemunhos semelhantes ao seu. Se você me permitir gostaria de postar o seu também, geralmente preservo a identidade da pessoa, a menos que a mesma queira que seja identificada. Fiquei com uma dúvida, você não está participando de uma igreja emergente?

    Abraço.

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  3. Vejo a igreja, enquanto instituição, como um meio de interação entre pessoas com um propósito em comum.
    O templo precisa ser um local para que as pessoas se apoiem umas nas outras em sua caminhada de fé.

    Entendo sua decepção, pois é triste ver alguns transformando as igrejas em meras agremiações socias nas quais o único objetivo é o "show" semanal e a arrecadação da "mensalidade".

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  4. Thiago,
    percebi um tom de tristeza no seu review. Fico triste junto com você. Eu imagino o quanto deve fazer falta o caminhar acompanhado, o descobrir errando juntos, os atritos que modelam caráter, o aprender ensinando ao irmão, a paciência com os mais fracos,...
    Acho que você deve reavaliar sua posição e voltar a buscar Jesus nas pessoas. Uma igreja é um bom lugar pra isso, independente do que vier a te desagradar lá. Vou orar por você.

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  5. Edson, realmente fico muito grato pela oração...

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  6. Maninho, muitos de seus relatos eu presenciei... Aliás, muitos eu vivi pra mim também. Eu também notei um certo tom de tristeza e desconsolo; mesmo porque, você já fez alguns desses relatos no blog (merecendo menção o texto "Desconstrução"). Contudo, não concordo que seja por falta de ver Jesus nas pessoas, por te conhecer. Mas algo me preocupa: Você é mesmo um peixe fora d'água? É assim que tem se sentido?

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  7. Lipa (maninho Lindoélio para os menos íntimos), quando digo que me sinto um peixe fora d'água, digo-o em relação à pragmática religiosa. Digo em relação a uma "i"greja cujo a vida é substituída por programas engessados e pouco producentes para a alma das pessoas. Quando digo que me sinto um peixe fora d'água, digo que não me encaixo nesse sistema travestido de cristianismo autêntico. Quando estava ainda dando murro em grilhões tentando me adaptar e me estabelecer na "i"greja do modo como me programaram para me estabelecer, percebi que não estava respirando... e não estava respirando... tal como um peixe não respira fora d'água! Hoje sou um peixe que, usando a melhor das expressões gospel -rs-, está mergulhado em águas profundas. Águas que vem do Trono -rs-, onde de fato um peixe pode respirar e sobreviver...

    Abração brother, saudades da sua presença!

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  8. Compartilho quase que identicamente da mesma situação, ideológica e cronológica, puts!, conhecíamos todos os bastidores do ministério, quanta porcaria ajudamos ostentar, mas o quanto sofremos tambem(Joal quem o diga, pastor vitimado e humilhado por esse sistema desumano), por tentar mudar tudo... mano, hoje não me sinto melhor que nenhum deles, mas certo de que sou um pecador mais livre que eles...

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  9. A situação está deveras deveras, né!

    Muita gente tem revelado a força que a fraternidade via blogs, comentarios, emails, twitters e mundo digital proporciona - e isso é bom!

    Vamos manter a fé - algo deve, pode e vai acontecer.

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