22 de nov. de 2008

Parei de ouvir música cristã

Há dois anos escrevi neste espaço que lamento o estado da música cristã. Percebi agora que simplesmente parei de ouvi-la. Acabo de verificar o que tenho armazenado no WMP. Não há nada de “música cristã”, a não ser as gravações de cinco artistas que mal cabem no gênero: John Coltrane, Sufjan Stevens, U2, Leigh Nash e a extinta Sixpence None the Richer. Parei de comprar CD’s do gênero após acumular uma longa lista de decepções.

Cabe aqui uma definição. Por “música cristã”, me refiro à categoria criada pelas gravadoras que produzem música popular para consumo pelo público “gospel”. “Música cristã” não é bem um gênero musical, pois o que existe é um mix retalhado de músicas que emprestam de gêneros legítimos.

Não incluo na minha definição a música usada na igreja para o louvor coletivo. Música de canto congregacional independe de padrões musicais usados na avaliação de desempenho performático e na análise crítica da letra como poesia. O gênero conhecido como worship music tem como foco direcionar a atenção para as virtudes e as promessas de Deus, de forma que a qualidade de música em si passa a ser menos importante que seu aspecto pragmático no culto de adoração.

Neste gênero específico, os critérios de avaliação resumem-se à (1) ortodoxia teológica da letra, (2) capacidade de envolver a participação da congregação e (3) qualidade técnica da execução pelo ministro de louvor, pelos instrumentistas e pelo backing vocal. Ou seja, worship music tem muito mais a ver com worship do que com music. Não minimizo a importância deste gênero, pois a própria Bíblia valoriza o louvor coletivo.

Meu lamento, então, reflete apenas a paupérie artística de muita música produzida para consumo cristão fora da igreja. É como se a indústria cristã tivesse determinado que o que vale é o conteúdo da letra: desde que ela contenha certos chavões, frases ou narrativas evangelísticas — além de um estilo bacana apreciado pelo mercado alvo —, é desnecessária a busca da verdadeira expressão artística. Basta o “suficiente”. Acaba tendo mais em comum com propaganda que com arte. Para fazer um jingle, não precisa chamar Caetano. Qualquer Emmerson Nogueira serve.

Percebo que há muita gente talentosa nas bandas das igrejas, pessoas realmente apaixonadas pela música e dispostas a sacrificarem para melhorar. Mas muitos são vencidos pela baixa expectativa da maioria, pelo padrão acomodativo e pelo ambiente em que o verdadeiramente excelente é visto com desconfiança. O desafio para aqueles músicos que realmente desejam a arte é aprenderem a fazer benchmarking pessoal com os melhores, e colocarem o seu talento a serviço do reino de Deus, e não apenas a serviço das gravadoras evangélicas.

Isto não significa que já não existam cristãos fazendo boa música. Mas, por ironia, usualmente os músicos que levam a sério tanto seu cristianismo quanto a qualidade musical são aqueles que rejeitam o rótulo “música cristã” para assim distanciarem-se da média medíocre. São esses que revitalizam na música o espírito criativo, que reflete a beleza e a verdade de Deus.

Parei de ouvir música cristã e comecei a buscar mais a boa música, inclusive aquela composta e executada por cristãos.

Mark Carpenter, na revista Ultimato. [via Pavablog]

9 comentários:

  1. Cara, não estou falando apenas desse post, especificamente. É um comentário sobre o blog, em si.

    Gosto dos apanhados que vc faz, mas gostaria de ver mais textos de sua autoria aqui no blog.

    Esses apanhados que vc faz revelam muito da sua linha de pensamento, sobre o que vc acredia e não acredita...

    Só que acho que da mesma forma que nem tudo são flores na igreja cristã atual, também não estamos perdidos.

    Percebo uma intensa manifestação crítica vinda daqui e de outros blogs dessa imensa rede de blogueiros cristãos, mas vejo que pouco é falado sobre as coisas boas do Reino de Deus.

    Vejo pouca palavra de incentivo, de ânimo, de arrependimento, de amor vinda dos blogs. Só aparecem críticas ferrenhas e contundentes, algumas acusações, algumas questões que beiram o gosto pessoal...

    Desculpe se não concorda comigo, mas é que eu já venho acompanhando alguns blogs (inclusive o seu) a algum tempo, e é esse o sentimento que tá se criando dentro de mim, a respeito das coisas que leio aqui.

    As vezes, quando termino de ler um post, quase acredito que o cristianismo não vale nada mesmo... vcs quase me convencem, às vezes.

    Vlw pela atenção,
    Thiago Alves Dias/ RJ

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  2. Thiago,

    Realmente têm havido poucos textos meus em relação ao início do blog... mas, é algo que já venho lutando para melhorar há um bom tempo! Mas, tenho disposto pouco tempo para escrever!

    Concordo plenamente contigo. Percebo em mim mesmo esse tom amargo e crítico no blog. E em muitos outros também! Contudo, creio ser um reflexo do que vimos, ouvimos e experimentamos. Contudo, não é desculpa para manter um tom tão ácido!

    Nâo quero que desista do seu cristianismo. Talvez o "cristianismo" que temos visto aí fora não mereça muito nosso suor, mas um cristianismo pessoal, simples e verdadeiro!

    Nosso alvo é e sempre deve ser Jesus, o autor e consumador da nossa fé!

    Mas, sua opnião e análise é pertinente e útil... quero e preciso me esforçar para falar e mostrar exemplos do Reino de Deus... não apenas mostrar a face negra sem apresentar a face límpida da Igreja!

    Thiago, fico muito grato por suas palavras...

    Um grande abraço!

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  3. Na época em que deixei a igreja a moda eram as canções "apaixonadas" por Jesus. Algums são belas e poéticas, mas outros ficam na mesmice e beiram até o ridículo. Uma das letras que me lembro e que a galera adorava falava "Jesus, eu quero vestir tua camisa, com as mangas maiores que meus braços..." Uma palhaçada! E aliás, essa música é meio parecidinha com aquela da Adriana Calcanhoto, "eu quero quebrar os seus discos... que é pra ver se vc volta". Agora que me ocorreu isso.

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  4. Ju,

    agora que você mencionou a semelhança que foi cair a ficha (ou cartão, sei lá-rs)...

    Mas, é o cenário da pseudo-criatividade cristã... Recordo-me agora de um livro que acabou de chegar em português, Viciados em mediocridade, que fala a respeito da pobreza que os cristãos demonstram no que concerne à criatividade...

    P.S.: Uma grande honra sua visita neste espaço, que espero seja um repositório mais criativo contrapondo o cenário medíocre da cristandade! Se não for também, muitos já me classificam herege mesmo - rs. Você sabe como é né?! rs

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  5. O comentário do Thiago Alves Dias é pertinente. Procuro refletir periodicamente sobre o que ele falou, me policiando para não cair na amargura ou deixar de transmitir as Boas Novas do Reino de Deus, pois ele não está destruído - muito pelo contrário.

    Sobre a postagem, me fez relembrar uma que li há um tempo e que tocava no mesmo assunto, mas de modo diferente. Nesse outro texto o autor simplesmente achava a música cristã tão ruim que a desqualificava por completo, chegando a negar a sua importância como forma de adoração. Me posicionei contra tal ponto de vista. Contudo, desta vez, acho que as palavras foram bem colocadas. Creio que nossas músicas poderiam ser bem melhores - às vezes são muito boas, mesmo que poucas vezes. Pena que a realidade geral da coisa não está boa, mas cada músico que tiver os olhos abertos pode ter a graça divina de mudar o quadro, quer seja uma mudança grande ou pequena.

    Eu ainda encontro motivos para ouvir música cristã - e evitar a "gospel".

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  6. Cristiano,

    Você está certo! Não podemos jogar a água do banho fora junto com o bebê! O "gospel" praticamente é indigerível para aqueles que tem o mínimo de austeridade musical. Contudo, encontramos boas músicas classificadas cristãs que são um deleite para nosso espírito.

    Abraço!

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  7. pow e o pior é que é só críticas mesmo, falando que há falta de originalidade, falta de criatividade e tal, parece q ñ há absolutamente nd de bom. Não conhecem: Rodolfo Abrantes, Heloisa Rosa, Livres para Adorar, PG, David Quinlan, Atmosfera de Adoração, Clamor Pelas Nações, Vineyard Brasil, Tribo de Louvor, Banda Ruths etc. Tem uma penca de coisa boa aí. Acho q v6 devem estar usando a net só p/ orkut e msn msmo !!!

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  8. Rodolfo Abrantes, PG, David Quinlan, Atmosfera de Adoração, Clamor pelas Nações, Tribo de Louvor, Banda Ruths...

    Cara, tem muita coisa boa sim... mas, por que você não citou nenhuma delas? rs

    zuera...

    Abraços!

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  9. Pois é Mateus, só que da sua lista pouca coisa "se salva" em qualidade. Ainda tem música cristã de qualidade e atual, sim. Mas tá difícil de achar.

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Fico muuuuuuuito feliz com a iniciativa de deixar seu comentário. Aqui você pode exercer sua livre expressão e opinião: criticar, discordar, concordar, elogiar, sugerir... pode até xingar, mas, por favor, se chegar a esse ponto só aceito ofensas contra mim (Thiago Mendanha) e mais ninguém, ok? rs