8 de nov. de 2008

Do mal cheiro no sepulcro aos braços de Jesus

Este é um texto do meu querido e amado irmão contando um pouco de sua trajetória e motivação de estar fora dos arraiais religiosos. Vale a leitura:

Desde que iniciei este blog me sinto na “obrigação” de explicar aos meus leitores a motivação em iniciá-lo e a crescente vontade de mantê-lo atualizado com toda a gama de conteúdo intelectual que está sendo disponibilizada nesse espaço. Terei que discorrer um pouco sobre mim, sobre a minha história e sobre a sucessão de intempéries que me levaram a rever tudo que tinha por absoluto em minha vida e começar uma reconstrução moral, para então explicar o seu nome e seu objetivo.

Nasci em um lar dito cristão. Meu pai era líder de uma denominação religiosa que prega o céu acima de tudo, cabalmente. Ele não era a melhor pessoa do mundo, não era o melhor filho, não era o melhor marido e, pelo o que me lembro, não era, nem de longe, o melhor pai. Mas ele era o líder daquele povo. A “i”greja que ele liderava é classificada pelos protestantes como: “seita”. Tão logo meu pai faleceu, minha mãe e meus dois irmãos saíram da tal igreja e eu continuei lá porque estava aprendendo a tocar violino.

À medida que ia crescendo passei a notar que eu era muito alienado, anti-social e tímido; e então decidi “mudar de igreja”. Comecei a frequentar uma denominação evangélica muito conhecida e ví que, apesar de tanta rigidez, a pré-adolescência já estava num estágio hormonal bem avançado e “liberado”. Não por isso, o ambiente não me agradou, e novamente “mudei de igreja”. Agora parece que sim; aquela era mais tranqüila. Nessa ultima, vivi quase 11 anos; havia me tornado ministro de louvor, tocava vários instrumentos, e tempos mais tarde, eu era diácono, líder de jovens e líder da equipe de música. Um jovem espelho, no esquema hierárquico da igreja. Lá foi celebrada a cerimônia do meu casamento. Minha ligação com tudo aquilo era tão forte que quando eu faltava algum culto no final de semana (quase nunca) eu me sentia vazio e alguns ficavam desorientados com a minha falta lá na frente. Durante esses anos vivi uma guerra constante dentro de mim.

Enquanto criança, aprendi a ver a Bíblia e os preceitos divinos de uma forma, de um certo ângulo, e quando “mudei de igreja” tive que aprender tanta coisa, sobre o mesmo assunto, de outra forma, em outros ângulos de visão que, na maioria das vezes, eu não sabia em quê acreditar do que ouvia. Minha vida era desconfortavelmente religiosa. Mas eu queria ver algo mais; além do que conseguia enxergar. Queria entender o por quê dos evangélicos classificarem todas as demais classes religiosas de “seita” e o por quê de sempre abraçarem o “plano de salvação” com tanto egoísmo e orgulho, como se fossem eles mesmos os detentores de toda verdade, e ainda por quê tanta gente depositando naquele grupo social uma fé que deveriam depositar a Deus. E as perguntas nunca paravam de minar: Por quê achar que aquela instituição era sagrada? Por quê dizer que se não entregar para a igreja dez porcento de tudo o que ganha com seu trabalho Deus não abriria as janelas do céu, e só abençoaria se o dinheiro fosse entregue? Por quê dizer que o mundo são as pessoas que estão fora das igrejas se o sistema igrejeiro de hoje foi criado por homens? Por quê tanto dinheiro gasto com festas e melhorias no “templo”? Por quê um salário tão alto para um pastor e uma pequena migalha, quando era jogada, aos próximos famintos da cidade? Por quê tenho que prestar contas até das viagens que faço e dos momentos em que estou ausente das reuniões do grupo se a minha cabeça é Cristo? Por quê tanta fofoca e disseminação de contendas em um grupo que prega o amor e a paz vindos do próprio Deus? Por quê tantos irmãzinhos da igreja têm o prazer de anunciar que têm “feito a obra do Senhor” e suas vidas, suas finanças, suas famílias não conseguem resplandecer a glória de Deus para os que estão fora dessa comunidade? Por quê não posso chamar as pessoas para tomarem vinho em minha casa se tem tantos irmãos que fazem isso por debaixo dos panos, no quieto? Por quê ter que fazer campanhas de oração para apresentar a Deus minhas necessidades e também as futilidades como se tivéssemos que colocar Ele na parede pra nos abençoar? Por quê achar que a “obra de Deus” consiste em confortar pessoas em quatro paredes, com todo aparato fútil que puderem montar? Por quê esperar que os que não vierem por amor venham pela dor? Por quê dizer que a pessoa que se levanta contra as idéias ostentadas pela igreja (meras doutrinas humanas) está sendo guiada pelo diabo se é o próprio diabo que gosta de pensar que é igual a Deus? Por quê querer calar os que conseguem levantar a voz e criticar o esquema? Onde está o amor nisso tudo? Onde está o testemunho do caráter de Cristo nisso tudo? E o ide? - Eu tinha muitas outras perguntas na minha cabeça, latentes. E então saí também dessa última igreja. Mas agora não “mudei de igreja”, apenas abandonei o que, contra qual, obtive provas de não ser Igreja.

Sempre gostei de uma história muito interessante da Bíblia. A ressurreição de Lázaro.

Lázaro era amigo pessoal de Jesus, irmão de Marta e Maria, da cidade de Betânia. A Bíblia não entra em maiores detalhes ao descrever essa amizade, mas expressa o quanto era forte e intensa. Jesus estava vivendo alguns conflitos com os religiosos da época. Estava lutando contra a incredulidade, a cegueira espiritual e a dominação do ceticismo e do mau ensino por parte dos líderes religiosos judaicos. Foi quando Lázaro adoeceu. Nesse contexto, Jesus estava fugindo das atenções religiosas, porque havia chamado alguns na sinagoga de filhos do diabo, servos da mentira. Sabendo que seu amigo estava doente, Ele disse que Lázaro não morreria; para que o nome de Deus fosse exaltado e que acreditassem que Ele era o Filho de Deus. O Mestre tinha um apreço imenso por aquela família; Ele os amava e os dava atenção carinhosamente. No entanto, ao saber da doença de Lázaro, ele continuou onde estava por dois dias até que disse aos seus discípulos que voltariam para lá. Os discípulos, lembrando que tinham acabado de fugir dos religiosos que queriam apedrejar seu Mestre, questionaram a volta à Judéia. Jesus, então, mostrando que sabia bem o que estava fazendo, disse que deveriam ir para acordar um amigo que estava dormindo, e completou dizendo que estava contente por não ter estado lá enquanto Lázaro falecia, porque assim muitos passariam a acreditar nEle. Tomé, nessa hora, fez até uma piadinha: “Vamos também pra morrermos com ele”. É... Talvez não tenha sido uma piada; afinal de contas, eles corriam o sério risco de serem apedrejados pelos religiosos. E lá estava mesmo cheio de judeus que tinham ido visitar Marta e Maria, irmãs de Lázaro, pois Jerusalém ficava bem perto de Betânia, à três quilômetros de distância.

Logo que Jesus foi chegando, Marta foi ao Seu encontro e disse que se Ele estivesse lá seu irmão não teria morrido, mas que, mesmo assim, sabia que Deus responderia qualquer pedido que Ele fizesse em prol da situação. E Jesus conta o plano de salvação que vinha do alto, abertamente, dizendo: “Eu Sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente”.

Maria, ao saber que Jesus estava entrando em seu povoado para visitá-los, correu ao encontro dEle. Os judeus que a confortavam correram atrás dela, achando que estava indo chorar no sepulcro. Ao encontrá-lo, ajoelhando-se aos Seus pés, ela diz exatamente o mesmo que sua irmã disse: que Lázaro não teria morrido se Ele tivesse chegado antes. A dor da família alastrou aos corações de seus amigos; e vendo o choro de Maria e de alguns judeus, o Mestre também fica emocionado. E com os nervos à flor-da-pele, Jesus chora, pasmando o povo, que exclamaram: “Vejam como Ele o amava!”.

Meio a tanta emoção, alguns religiosos ainda criticaram o fato de que se Ele conseguiu abrir os olhos de um cego, há pouco tempo antes, então Ele poderia ter impedido a morte de Lázaro.

Jesus, profundamente comovido, foi até onde estava o corpo de seu amigo, uma gruta fechada por uma pedra, e ordenou que abrissem aquele sepulcro. Marta argumentou que talvez não fosse uma boa idéia porque já se faziam quatro dias desde a morte de seu irmão e com certeza o cheiro não estaria tão agradável; Mas a glória de Deus seria transbordante nos próximos momentos. Então tiraram a pedra que tampava a gruta, e Jesus, olhando para cima, agradeceu ao Pai por sempre ouví-lo; Ou seja, nesse momento Lázaro tinha sido ressuscitado. Jesus não deu a ordem: “Ressuscite, Lázaro!”. Ele já tinha pedido ao Pai que o fizesse e então apenas bradou bem alto: “Lázaro, venha para fora!”; E o morto saiu do sepulcro fétido, todo enfaixado, para se encontrar com Jesus, fora do leito de morte.

Venha para fora! Essa foi a ordem de Jesus a Lázaro, seu amigo, que recebera uma nova vida. Enquanto eu buscava forças para abandonar as divisas daquela instituição igrejeira, deparei-me com a doçura e inteligência do discípulo João relatando essa história de milagre, vida, propósito e expansão do nome de Jesus. E a história me fez refletir muito sobre como deve ser a vida de um amigo de Jesus.

João conta que depois da ressurreição de Lázaro, Jesus não pôde mais andar publicamente entre os judeus porque os sacerdotes (lideres religiosos) já tinham traçado um plano para matar Jesus ao saberem o que Ele tinha feito no povoado de Betânia. E diz que Jesus refugiou-se próximo ao deserto, num povoado chamado Efraim, para que chegasse a hora em que seria entregue a esses religiosos e crucificado por eles.

Antes das festividades da páscoa Jesus foi visitar Lázaro e suas irmãs, e o povo judeu lotava o povoado para ver Jesus e também Lázaro. E isso causou ciúmes nos sacerdotes, que resolveram matar Lázaro também porque através do testemunho dele muitos estavam abandonando a religiosidade dos judeus e crendo em Jesus e na Sua missão.

Este blog é a ilustração de uma amizade com Deus, sem barreiras e totalmente por fé. Confunde-se à missão de criticar as instituições igrejeiras, mas é muito longe disso. Meu êxodo dos muros religiosos levaram a uma indignação incontida que precisava ser expressa; por isso, a sensação que pairou até agora, é de um blog revoltado com a igreja. Mas não é essa a minha motivação em mantê-lo. Existem milhares de pessoas que pensam em sair de suas liturgicas igrejas a cada culto vazio, que vivem dentro de uma igreja e não sabem o mínimo sobre o evangelho de Jesus e de suas experiências enquanto vivia em carne e osso aqui na Terra; pessoas esperando que a igreja proporcione uma amizade genuína com Cristo. E quanto mais eu leio a Bíblia, mais eu entendo que a igreja NUNCA proporcionará isso, porque tem que sair de dentro de cada um; tem que ser natural; e a igreja escravisa as pessoas a viverem para o sistema, como maquininhas sem vida e sem livre arbítrio, e ainda pensam responder por Deus.

Dedico o blog a todos os Lázaros, amigos íntimos de Jesus que se deixaram ressuscitar por Ele e decidiram obedecer o Seu chamado, que diz: “venha para fora!”, não se importando com o preconceito religioso - o termo "eclésia", quanto à igreja, quer dizer: "chamados para fora".

Ser crentinho, santinho, escolhidinho, dentro das quatro paredes de um templo é muito fácil. Quero ver quantos Lázaros se descobrem quando essas quatro paredes caem!

Lindoélio Lázaro em O's Lázaro's

Um comentário:

  1. concordo com vc! só acho que o problema nao está na "i"greja em si, o problema esta em como vivemos e fazemos a igreja que somos nós.

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