Terminei de ler e estou muito contente com o lançamento do livro
Por que você não quer mais ir à igreja?. Já explico.
Há exatos três anos enveredei minha espiritualidade por caminhos, digamos, estreitos e pouco convencionais, portanto, inaceitáveis pela massa evangélica - não só evangélica, claro, mas quaisquer fossem as confissões cristãs. Antes disso detenho uma odisséia da fé comum a muitos dos evangélicos no Brasil: nasci num lar católico negligente com a prática da identificação religiosa; não me lembro se fui batizado ainda bebê e não vou atormentar minha mãe ligando só para perguntar isso. Tentei terminar a catequese, mas achava insuportável e aos poucos deixei de participar. Nunca consegui rezar o terço inteiro. Ficava só imaginando como alguém conseguia! Nunca fui muito apegado à "Virgem Maria", nem aos Santos católicos e não me lembro de conversar com nenhuma imagem. Como vê não fui um bom católico! Paralelo a tudo isso, mesmo tendo-me como tal, ainda usufruia, com minha avó, dos cultos na Igreja Assembléia de Deus nas férias ao visitá-la. Bom, não posso dizer bem que usufruia porque, na verdade, achava um tédio e sempre esperneava para ir embora. Também, paralelamente, cedia um pouco para o Espiritismo do meu pai.
De fato era onde mais gostava de estar, comparando com as missas e com os cultos. A sessão espírita era, com toda certeza, um pouco estranha, mas o ambiente era mais leve. As pessoas eram mais serenas, menos austeras e pragmáticas.
Pois bem, o tempo foi passando e fui ficando menos dependente no sentido de ser levado pra lá e pra cá pela mãe, pelo pai ou pela avó! Já estava crescidinho e podia muito bem decidir sobre minha fé sozinho. Sempre fui muito curioso sobre coisas espirituais. Em minha pré-adolescência gostava muito de ler sobre ocultismo, magia, exoterismo e satanismo. Em contrapartida, também mantinha uma sede pela idéia de Deus.
Lembro que ficava divagando sobre Ele até a mente travar; de onde veio Deus? Quem criou Deus? Se Ele é onisciente por que criou tudo sabendo que iria dar em "merda" (com licença da palavra)? Se Ele é onipotente por que deixa tanta gente na mão? Se Ele é onipresente como pode aguentar testemunhar um estupro e não fazer nada?Era assim, minha mente jovem se aventurando em questões que adultos lidam de forma infantil ainda. E foi como resultado desse perfil questionador que tornei-me evangélico. Toda a discrepância da Igreja Católica frente à Bíblia me deu mais que motivos para converter-me ao Protestantismo. E de fato era protestante mesmo porque a boa nova que me fez trocar de religião foi aquela antimariana, anticatólica, anti-idolatria, antisantos, anti-imagens, etc. E como foi isso que recebi foi isso que dei. Era o que sabia pregar: "a Igreja Católica é idólatra, Maria não é Rainha, foi pecadora e não morreu virgem, só Jesus é mediador entre Deus e os homens, etc".
A denominação em que passei a frequentar foi a Igreja do Evangelho Quadrangular. Foi lá que comecei a aprender a ser "crente". Foi lá que ficava espantado e admirado com as manifestações de demônios nos cultos de quarta-feira. Achava o máximo! O período do louvor era o que mais gostava.
Claro, o show do pastor também era muito legal! Os pulos, os "tics", as entonações que pareciam ensaiadas, os gritos de efeito... uau! Era muito talento para uma pessoa só!Meu primo mudou-se da cidade e como era com ele que ia para a igreja, e foi por intermédio dele que me converti, acabei deixando de frequentar os cultos. Eu era um menino muito pouco entrosado e meu primo era minha muleta social.
Então, fiquei desmotivado para ir sozinho para a igreja e fiquei um bom tempo "desviado".
É isso, já sabia que quem não frequentava a igreja era desviado. Mas, não havia opção! E nesse período, por conveniência, passei a me declarar ateu. Deixe-me explicar isso! Não deixei de acreditar em Deus. O que ocorreu é que eu achava que ateu era aquele que não tinha religião. É, não sei por que não me passou pela cabeça consultar um dicionário. Mas, agora entendo porque as pessoas se espantavam quando ouviam um menino de 10 anos declarar-se como tal.
No meio dessa história toda minhas duas irmãs mais novas passaram a frequentar a Igreja Cristã Evangélica. Minha mãe insistia que eu fosse junto para vigiá-las.
E foi assim que acabei criando o maior vínculo eclesial da minha vida. Foi lá que fui batizado. Foi lá que aprendi a tocar bateria e toquei na equipe de louvor. Foi lá que amadureci espiritualmente. Foi lá que passei bons momentos da minha vida (e os piores também, mas isso explico depois). Foi lá que doei minha vida, minha energia, meu talento, minha liberdade, minha adolescência, meu tempo, meus serviços, etc. Só não foi lá que entreguei meu dinheiro porque ainda não tinha renda. Se bem que do pouco que eu ganhava, dando aula de bateria e fazendo desenhos, eu "devolvia" a décima parte como rezava o mandamento.
Tá, confesso que eu tinha muita dificuldade para "devolver" o dízimo e algumas vezes omitia a obediência nesse quesito.
Foram sete anos enfurnado dentro da igreja. Não dá para contar tudo que vivi, vi e ouvi em razão disso a não ser num livro. E isso não seria viável, muito menos interessante já que não há nada de interessante. Basta dizer que fui líder, exemplo para os jovens e adolescentes, professor de Escola Bíblica Dominical (detalhe, acho que nunca faltei em 3 anos), menino prodígio da igreja, entendido da Palavra, sábio, maduro, ministro de louvor, pregador e muito chegado ao pastor e à pastora - o que me contemplava ampla visão da liderança da igreja e dos mecanismos internos. Com isso pode-se abstrair a bagagem que carreguei antes dos 18 anos de idade.
Aliás, fica aqui uma dica para os pastores, líderes e afins.
Peguem menos no pé da masturbação e procurem tratar de outra coisa mais eficiente no discipulado dos meninos. Só porque somos adolescentes e jovens não quer dizer que o único pecado que existe em nosso mundinho de espinhas está relacionado ao sexo. Sério, era tanta bitolação com a punheta (mais uma vez licença da palavra) que quando ficava uma semana sem onanizar-me sentia que era o maior santo de todos os tempos da última semana. Haviam tantas outras áreas fundamentais a serem transformadas por Cristo em minha vida, e que ocasionariam na melhoria de outras áreas especializadas, que perdi muito esforço e energia lutando contra meus hormônios.
Pois bem, nestes sete anos transitei entre o tradicional, avivado e carismático em suas diferentes formas e estágios. Vale ressaltar que a igreja não caminhou no mesmo rítmo. O que gerou muita fadiga para nós da equipe de louvor.
Imagine um bando de crias de BH (quem lê entenda) do interior de Goiás tentando levar uma igreja estagnada a 40 anos ao "mover"? Isso rendeu muito pano pra manga...
Mudei-me de cidade para estudar, trabalhar e, enfim, o famigerado estereótipo do menino do interior tentando alçar voo. Fui morar com meu primo que agora era membro da Igreja Presbiteriana Orvalho do Hermom. Ele já estava entrosado (como sempre) e já ministrava louvor e tal na igreja. Eu cheguei e mantive-me em sua sombra para não perder o costume. Ainda sem aquela desenvoltura para enturmar mas seguro com a presença dele.
Devo detalhar que a experiência numa igreja de interior é totalmente diferente da experiência numa igreja de cidade grande. E isso eu viria a descobrir logo.
Depois de um tempo pouco produtivo e motivacional nesta igreja, mudamo-nos para outro bairro.
Daí surgiu aquela dúvida: para qual igreja nós vamos agora? Nós tínhamos um Ministério de Louvor e Adoração chamado Adoração em Plenitude. Lembram do lance das crias de BH? Então, é isso...
E era muito importante que tívessemos uma cobertura espiritual para que pudéssemos "ministrar" nas igrejas. Sempre perguntavam isso pra gente quando faziam o convite para tocarmos em algum evento: 24 horas de adoração, louvorzão, conferências proféticas, cultos, etc, etc. Nesse período fizemos parte da Igreja Batista Betel, depois da Igreja de Cristo Rocha Viva, depois da Igreja Betesda, depois da Igreja Plenitude de Deus e, por fim, da Igreja Batista Memorial. Essas foram as igrejas que chegamos a ser membros, mesmo que por pouco tempo. Mas, conhecíamos muitas outras, aliás, mais neopentecostais, em virtude do Ministério de Louvor que tínhamos.
Depois de tudo isso, voltando aos três anos atrás, comecei a perceber que nada fazia tanto sentido como pensava fazer. Manipulação, poder, disputas, divergências, divisões, modismos, falsidade, mentira, soberba, autoritarismo, egoísmo, hierarquia, camadas de poder, abusos, oportunismos, alienação, ritualismo, enganação, etc, etc, foram palavras que começaram a borbulhar em minha cabeça toda vez que parava para meditar, refletir e repensar toda minha eclesiologia.
Não foi fácil carregar tantas dúvidas e questionamentos. Não tinha com quem compartilhar pensamentos tão "hereges" e "rebeldes". Mas, orando, pesquisando e estudando fui me sentido seguro. Por fim, tomei a decisão de não mais ir à igreja. Já era algo que não fazia sentido algum para mim e o fazia por desencargo de consciência. Até que fiquei livre desse tipo de consciência. O verdadeiro desafio era lidar com essa nova realidade: Ser apaixonado por Deus, sentindo-me tão próximo e sincero no relacionamento com Ele como nunca havia sentido - nem mesmo nos melhores tempos de "intimidade" importados de BH - e não ir mais à igreja. As pessoas não concebem essa idéia. Não conseguem imaginar um discípulo de Cristo livre dos cercos institucionais de uma igreja, de uma denominação, de uma teologia, de uma doutrina, de uma "cobertura espiritual" ou de um líder religioso.
E é justamente por isso que me alegro com a chegada do livro
Por que você não quer mais ir à igreja? de Wayne Jacobsen e Dave Coleman. Nestes três anos que deixei de ir à igreja tenho visto muitas outras pessoas confidenciando experiências afins à minha. Nestes três anos já não me sinto tão sozinho como no início. É bom ver que a Igreja está se libertando dos templos e rompendo com diversas amarras criadas por homens. Sinto-me alegre por perceber que a sede por Deus e por um relacionamento autêntico com Ele tem sido prioridade na vida de tantos. E estes não necessariamente encerram-se dentro de igrejas. Pelo menos não em igrejas segundo o senso comum.
Estas pessoas percebem que comunhão é algo muito mais profundo e sobrepuja uma simples reunião dentro de um prédio com fachada. Comunhão vai além de ficar olhando para as nucas uns dos outros durante duas horas.
Este livro traz uma história que tem uma mensagem direta, objetiva, simples e libertadora. Para aqueles que não concebem um relacionamento fidedigno com Deus e com outros da mesma fé sem o frequentar semanal à uma igreja institucionalizada, a narração trará uma perspectiva que pode romper com paradigmas. No mínimo trará respostas para as perguntas que mais ouço: Em que igreja você vai? De que igreja você é? Em que igreja você congrega? Em que igreja você assiste? Você é membro de qual igreja? Quem é seu pastor? E, finalmente, por que você não vai à igreja?
Você terá a oportunidade de entender que de fato é possível ser cristão apesar da igreja.
E muito mais, que é possível que o que você pensa ser igreja realmente não seja Igreja.
Convido você a ler esse livro que pode lhe causar empatia com a história de Jake Colsen. Talvez seja hora de você descobrir se entregou sua vida à Jesus Cristo ou acabou entregando sua vida à igreja pensando que era pra Cristo.