14 de dez. de 2008

A sós comigo




Para viver a essência do relacionamento pessoal com Deus é preciso, antes, reconhecer o que permeia nossos corações; nossos anseios, nossas angústias, nossas lutas internas; aceitando o que somos.

Olhando para você agora, o que vê?

Vê uma pessoa cheia de sí, garantida de seus conceitos, segura em seus planos, sempre confiante de que tudo pode fazer?

Vê uma pessoa recuada, na defensiva, cheia de temores interpessoais, farto da vida política-social, invejosa, sempre querendo ser como os outros, cheia de defeitos, cheia de mágoas, descontente com a aparência física, pouco estimada pelas pessoas, sem reconhecimento, sem verdadeiros amigos e continuamente culpando a Deus (ou a falta de Deus, ou a inexistência de Deus) pelo o que é?

Vê uma pessoa certinha, incapaz de cometer erros absurdos, cheia de fraternidade, orgulhosa por ser diferente de tantas pessoas que não se enquadram em seu perfil?

Vê uma pessoa quebrantada, ferida pelo mundo, totalmente dependente de um “ser” bem maior que todas as perseguições que já sofreu e ainda sofrerá?

Na verdade, a maioria das pessoas nem conhecem a sí mesmas. Vivem pelo “acaso”, não se importando com o quanto podem ser melhores ou o quanto estão sendo ruins. E muitas ainda se atrevem a dizer que anseiam intimidade com Deus, e outros, que têm intimidade com Ele.

O relacionamento de filho com o Pai, como amigos, está ligado ao quanto de nós mesmos conhecemos. Ninguém é amigo de Deus vivendo contrariamente ao que se conhece ser.

Alguns são cheios de sí, garantidos e seguros no que podem fazer. Com essa convicção acabam por negar um relacionamento mais profundo com Deus, pois a intimidade gera um sentimento de dependência. Um amigo depende do outro para ser forte.

Talves essa seja a palavra mais descritiva quanto a intimidade com Deus: dependência.

O desejo de Deus é que sejamos tão intímos dEle a ponto de sermos dignos de sermos chamados “amigos do Senhor Jeová”. Fomos criados por essa intenção. Desde Adão o fôlego de vida que nos move é o desejo insaciável da parte de Deus em ter verdadeiros amigos, adoradores que o adorem em espírito e em verdade.

Para se firmar uma amizade genuína é preciso cultivar a intimidade e a confiança mútua, em qualquer relacionamento.

Quando o Pai sonhou com a nossa existência Ele disse: “... Viva! Domine sobre os animais! Multiplique-se sobre a face da Terra!”; e em Seu coração imagino que tenha exclamado: “... Estou fazendo isso porque preciso de amigos, preciso de pessoas que me amem com exatamente tudo o que é e com tudo o que possui, porque o homem é semelhante a mim, e oferecerei, de graça, tudo quanto quiser possuir, para que me glorie em toda sua vida, usurfruindo de uma vida eterna e abundante de prazer, e como primeira prova de amizade chamarei isto de 'livre arbítrio'”.

Não escolhemos ser amigos de Deus. Nós aceitamos a amizade dEle ou não.

Existem pessoas que nem mesmo conseguem ser seus próprios amigos. Pessoas recuadas, que não vêm qualquer beleza em sí mesmas, internas ou externas; pessoas com constante sentimento de inferioridade e incapacidade, tímidas e temorosas com tudo a seu redor. Esses sentimentos, paradoxalmente, provêm de orgulho por serem movidos pela necessidade de aceitação e reconhecimento. Essas pessoas nunca estão contentes consigo mesmas. Estão sempre querendo realizar alguma façanha para chamarem as atenções, e quando não conseguem o esmero desejado começam a reclamar por sua aparência, pelos talentos inúteis ou pela falta deles em suas vidas, entre inúmeras outras queixas contra elas mesmas; e a culpa acaba sendo sempre do criador que as arquitetou (ou do acaso, que nunca lhes submete sorte). O fracasso dessas pessoas é o fruto do livre arbítrio mal observado. E desse modo não há como ter intimidade com Deus.

Qual o sentido de estar a sós com alguém que você não tem intimidade?

Já outras pessoas, movidas pela ilusão e alienação do mundo, tentam mostrar que são “diferentes”. Sentem-se irrepreensíveis por sí mesmas, excelentes em tudo, e com isso, melhores que a maioria. Feriseus do novo milênio. Pessoas que vão ao “templo” toda semana, levantam suas mãos para expressar suas diferenças dos demais não tão bons quanto elas, mas com seus corações minados de indiferença para com Deus. Corações hostis para a intimidade com o Aba. Pessoas ocupadas demais com tudo o que tem para realizar e, por isso, andam “sem tempo” para se aprofundarem na vida com Deus. Pessoas boas demais para depender da maravilhosa graça.

Os verdadeiros adoradores sempre estão a sós com Deus, quebrantados e feridos pelos açoites do mundo, carentes de colo e totalmente dependentes da graça para viverem. Choram em secreto, insaciáveis pelo aconchego dos braços do Pai, inconformados com o pecado, humildes para pedir o gracioso perdão, como um abraço acolhedor de Deus. Esses sim caminham para a mais profunda intimidade com Ele. Eles se reconhecem; sabem de suas debilidades; e, mais ainda, têm fê no amado amigo de todas as horas.

Aquele que deixa de se entregar ao pecado para ser amigo de Deus deve olhar para sí mesmo e se esvasiar do orgulho, do medo, da timidêz, das mágoas, do sentimento de inferioridade, ofertando o seu coração para honra e glória dEle.

Para que você possa estar “a sós com Deus” tem que aprender a estar “a sós consigo mesmo”.


PS.: Escrevi esse texto para contextualizar uma das pregações que realizei no último acampamento de jovens, onde o tema era "A sós com Deus". E acredito mesmo que só se pode estar a sós com Deus aqueles que têm o habito de estar a sós consigo mesmo (ou que, no mínimo, conseguem isso), resguardando a consciência e a fé. O relacionamento com Deus tem isso; estar sozinho e se sentir amparado, observado com diligência. Ninguém pode dizer que relacionar-se com Deus é visitar periodicamente um "templo", erguer suas mãos em motivo de adoração e se declarar familiar dos céus.

Lindoélio Lázaro em O's Lázaro's

7 comentários:

  1. Excelente Tiago!
    Gostei e concordo contigo.
    Antes de tudo, precisamos de estar bem conosco mesmos, para que isso se projecte ao nosso próximo,a Deus.
    Há que aceitar e crer que somos muito amados por Deus.
    Nessa aceitação genuína, está o relacionamento livre com o nosso Pai.
    é um circulo! :))
    DTA

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  2. Oi Thiago,

    Creio que vc tocou num ponto chave que é o esvaziar-se para que Deus realmente possa ser real e ocupar o Seu lugar em nós.

    E de fato ter consciência e noção do que é estar continuamente na presença dEle. E assim fazê-Lo participante - origem e destino de nosso dia a dia.

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  3. Thiago,

    Concordo com você de que não precisamos necessariamente estarmos em um templo religioso, para estarmos a sós com Deus. Muitos não entendem que antes de construir templos é preciso saber que somos templos.

    Abraço.

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  4. Muito bom Thiago, gostei muito da mensagem...

    é a primeira vez que escrevo, porém há um tempo que acompanho seus artigos no site igrejaemergente.com.br

    abcos!!

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  5. Graça e paz a vós vos sejam multiplicadas, irmão Lindoélio Lázaro, via "tomei a pílula vermelha".

    Verdade absoluta a necessidade de se estar à só consigo mesmo, para que possamos experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita união com Deus Todo-Poderoso, precisamos amar a nós mesmos, a fim de amarmos nosso semelhante, a semelhança do Criador...

    E nesse âmago, as igrejas/denominações vêem fazendo o curso oposto, individualizando a criatura, a grande maioria levando o “ser” a barganhar com o Seu Senhor...

    Na lavagem cerebral das denominações, implantam, e assim, cauterizam mentes, para que estas sejam cada dia mais dependentes da organização igreja (quatro paredes) e não do organismo Igreja (corpo de Cristo)...

    Mas aqueles que esperam no Senhor, e que O adoraram em espírito e em verdade, livram-se da organização igreja, sem jamais estar de braços cruzados, valorizam o “Ide!” do Mestre, prostram-se em adoração, reúnem-se em comunhão, mesmo que em seus lares, e, jamais estão só, pois o Senhor Jesus se faz presente...

    Fraternalmente.
    James.
    www.jesusmaioramor.blogspot.com

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  6. Acredito realmente que o auto-conhecimento e a auto-aceitação seja essencial para a saúde de qualquer relacionamento, principalmente com Deus. E o que as igrejas fazem no subconsciente das pessoas é menosprezar, denegrir a individualidade... Afirmações tão comuns nos pulpitos das igrejas, como: "Você é um pecador", "Você não é nada", da forma que são pregadas, acabam por criar a sensação de que quanto menos aceitarmos nossa individualidade mais Deus vai nos aceitar...
    _
    Obrigado, brother James, pelo carinho, e também aos demais pelas considerações pelo texto...
    _
    Abração!

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  7. Muito bom esse "post".
    Isso verdadeiramente é "alarmante", "porque as pessoas estão morrendo sem conhecerem a verdade que está presa em si".
    Muitas pessoas acham que o suficiente é "levantar as mãos", cultuar a Deus todas as semanas... Acham que está de bom tamanho, que isso é "ter intimidade" com o Pai.
    Enquanto na verdade "NÃO CONHECEM NEM A SI MESMOS" e muito menos, a "A ESSÊNCIA DO SER HOMEM(HUMANO) E DEUS".

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