1 de dez. de 2008

Enfeites de Natal


O Natal é um período mágico para muitas pessoas. Mas, para mim não. Sempre achei o Natal e o Ano Novo sombrios. É uma sensação que carrego desde criança.

Não tenho nenhum trauma inerente que explique esse sentimento. Meus pais não tinham dinheiro para bancar um dezembro da forma como a cultura consumista prega. Mas, não era um suplício para nós. Na verdade minhas recordações dos dias de Natal e Ano Novo são de ficar assistindo as programações da Globo depois de uma boa janta com meus pais e irmãs.

Lembro que no meu quarto, sozinho, cantava Parabéns pra você a Jesus. Achava que era o que devia ser feito já que comemorávamos o nascimento dele. Esboço um sorriso lembrando da inocência e pureza em meu coração.

Na verdade não consigo me alegrar como todas as pessoas na época do Natal. Não consigo me exultar como a data manda. É que penso que é uma época tão difícil para tantos outros que sofrem porque não conseguem passar um Natal e um Ano Novo da maneira como veem na TV que não consigo parar de pensar na banalidade da data. O apelo comercial chega a me enojar por causa disso. Sinto que há um certo desrespeito e desconsideração com os que não tem recursos para conseguir uma Ceia com peru e vinho e bastante comida pra reunir toda a família. Que não tem como comprar presentes para os filhos. Montam uma pequena árvore de Natal que serve como contraste social. Não sei, acho muito triste tudo isso!

Os primeiros cristãos sequer comemoravam o Natal. E de fato não é uma comemoração bíblica. Mas, com certeza é uma data comercial. Claro, a economia precisa se mover e é um período oportuno para tal. Mas, creio que esse lance comercial poderia ser menos agressivo e invasivo.

Gasta-se muito dinheiro com futilidades natalinas. As cidades ficam enfeitadas e exuberantes, mas, escondem seus desabrigados e meninos de rua em becos e vielas escuras que não brilham como as luzes de Natal. Negligencia-se os velhos nas praças e calçadas enquanto a atenção é voltada para o simpático Papai Noel, um velhinho mais agradável às vistas.

Não sou nem um pouco empolgado com a reluzência da data. Não acho isso bonito. Bonito é o povo sendo solidário. É a mobilização nacional em favor das vítimas em Santa Catarina. Bonito é a distribuição de cobertores e comida para moradores de rua. Bonito é proporcionar um Natal digno para os que já sofreram tanto durante o ano, e dar-lhes esperanças para um próximo.

Hoje aqui no trabalho vieram me pedir uma contribuição para enfeitar o ambiente com pisca-pisca, árvore de Natal, bolinhas, enfeites e essas coisas todas. Olhei para elas e disse: Não consigo contribuir para enfeitar uma árvore de Natal sabendo que posso contribuir com a amenização do sofrimento das vítimas de Santa Catarina. É pouco? Sim. Mas, prefiro doar meu pouco para algo mais nobre do que para algo tão frívolo. Sentiria muita vergonha de ter a oportunidade de ajudar e ao invés disso, tirar 1 ou 2 reais da minha contribuição para enfeitar uma inútil árvore de Natal. 1 ou 2 reais já seriam algumas pastas de dentes a menos para eles,ou alguns sabonetes a menos, ou algumas escovas de dente a menos, ou alguns pães a menos em algum dia, etc, etc... num momento como esse as necessidades mais básicas são faltas terríveis numa rotina já tão sofrível!

Ah, fazer o que? A galera aqui já sabe que sou radicalzinho mesmo...

4 comentários:

  1. Moooooooooçooooooooooooooo........
    Estou numa correria louca com a facul e o serviço, mas não podia deixar de comentar esse texto!!!
    Que produção textual maravilhosa! Mais que isso: que sabão bem dado!!!
    Natal é isso mesmo: nada... Pelo menos pra maioria desse país... Somos uma nação de espectadores da burguesia iluminada do Natal...
    E viva o papai noel, que só aparece no fim do ano pra dar balinha pros bobos!!!

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  2. Olá, querido irmão pensador!

    O seu texto traz muitos questionamentos válidos, sem dúvida nenhuma, mas que bom que você se reconheceu "radicalzinho" ao final!

    Sei lá, vejo algumas igrejas que adotam posturas EXTREMAMENTE radicais nessa questão do Natal, que me incomodam um pouco... Por exemplo, essa história de "se não tá na Bíblia, eu rejeito"... Gente, quantos costumes que não estão na Bíblia todos nós adotamos nos dias de hoje, por questões práticas (como este espaço chamado internet, que usamos neste exato momento, por exemplo...)... E, puxa vida, Graças a Deus por isso! Graças a Deus, que nos dá capacidade e inteligência para melhorar os nossos meios de vida! Se fôssemos viver exatamente como os primeiros apóstolos, onde estaríamos agora?

    Agora, se os primeiros cristãos celebravam ou não o Natal, e em que data, há sérias controvérsias. - Mas um fato histórico e incontestável é que os primeiros cristãos viviam em extrema humildade, dividiam tudo que possuiam e abraçavam até a pobreza com alegria. Mas com esses "detalhes" ninguém parece tão preocupado, em especial nessas congregações que obrigam seus adeptos a comparecer aos cultos usando terno e gravata, num desfile de vaidades infladas que com absoluta certeza não é bíblico. - São justamente essas as que mais furiosamente atacam a celebração do Natal e outras questões como essa.

    É bacana celebrar o Natal? Para mim, depende. Esse Natal materialista, regado àquela maledeta musiquinha da Globo e especial do Roberto Carlos, com direito a tio bêbado dando vexame na ceia à meia noite, realmente não tem nada de espiritual e muito menos de cristão.

    Mas existe um outro lado. Os batistas tradicionais, por exemplo, congregação na qual sou batizado, celebram lindamente o Natal, com cantatas maravilhosas, teatro, árvores iluminadas e tudo o mais. As crianças adoram, aprendem a importância da Natividade... E eu não os considero nem um pouquinho menos cristãos por isso, ao contrário.

    Já no ano retrasado eu passei a noite de Natal numa instituição católica que acolhe e abriga moradores de rua, e nessa data distribui presentes e oferece uma belíssima ceia; depois tem oração e cânticos de louvor e adoração. Eu e minha esposa participamos de tudo: distribuimos presentes, jantamos e louvamos Jesus, de mãos dadas com os rejeitados da nossa sociedade, como iguais, como Jesus quer. E, vou te dizer: poucas vezes me senti tão próximo do nosso Senhor! Posso dizer que foi um Natal 100% cristão! E estamos planejando repetir a dose, talvez este ano...

    Já na família da minha esposa, todo ano é briga, porque uma parte da família é evangélica radical e a outra católica light, aí surge o eterno conflito: um lado tentando entender o que pode haver de errado em se reunir a família para um jantar e troca de presentes, em memória ao nascimento de Jesus Cristo, mesmo que a data verdadeira não seja essa. A outra parte argumenta que a festa "não é bíblica", e a discussão nunca tem fim. Pronto. O Natal virou discórdia. Uma família que sempre celebrou unida se encontra dividida.

    O fato de o 25 de Dezembro ter sido, na antiguidade, a data de uma festa pagã não me incomoda em nada, porque o nascimento de Jesus, que é a verdadeira luz que ilumina este mundo, foi colocado no dia 25 de dezembro para substituir a festa em honra ao deus sol, o astro que apenas ilumina a terra materialmente. - A celebração da data natalícia de Cristo é a mais ecumênica, enternecida e espiritual de toda as outras datas, ao lado da Páscoa, em todas as latitudes e longitudes do globo terrestre. Cristo se fez homem. Ele se fez criança… E o que poderia ser mais indefeso do que um recém-nascido completamente dependente de sua mãe? E esta característica de peculiar ternura do Natal que tanto atrai o verdadeiro sentimento religioso das pessoas – sentimento que tem por finalidade religar, tornar a ligar, a atar a filiação com o Pai. - Não consigo ver nada de errado nisso.

    A não ser, claro, o materialismo que Hoje em dia "paganiza" até mesmo as festas cristãs. Para muitos, sim, o Natal é apenas ocasião para dar e receber presentes, enviar e receber mensagens, cumprimentar amigos, comilanças, encher a cara... Para os comerciantes, o Natal é apenas ocasião de vender mais e faturar. O novo deus do mundo, Mamon, reina absoluto. Para a maior parte do povão, o Natal é ocasião de consumir, infelizmete. O Cristo raramente é lembrado. - E isso me enche o coração de tristeza, porque fui criado numa família que sempre soube, durante a minha infância, celebrar a ocasião dentro do seu sentido espiritual.

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  3. Oi, H K Merton...

    Cara, o que você escreveu é totalmente considerável! Sei que o Natal é singularmente pagão, e tantos outros costumes da igreja (vide Cristianismo Pagão, certo?), mas, embora seja "radicalzinho", tenho o bom senso de não ser objeto para chocarrices nem entre família, nem entre amigos. Como você disse, de que vale uma família se reunir fraternalmente para discutir e até brigar por questões menores que o respeito e o amor que deveriam sobrepujar? Há de ser radical, sim, nas obras mostrando o real sentido que permea (ou deveria permear)o Natal não em porfias teóricas que não levam a nada!

    Como você relatou sua participação numa comunidade católica durante o Natal, creio que esse seja o verdadeiro Espírito que deveria agir nas pessoas também... É um ótimo exemplo a ser seguido! Fico muito feliz em saber que há exemplos assim de amor!

    Bem, o fato de dizer que o Natal não é bíblico é só pra acordar as pessoas pra realidade... convenhamos que os mais indoutos cumprem certos ritos ou costumes que lhes impõem porque creem piamente que isso é da vontade de Deus, quando não o é... talvez isso os desperte para uma ação mais voltada ao próximo e menos consumista ou religiosa! Mas, torno a repetir, se é bíblico ou não, o fato é que isso não deve ser desculpa para se afastar das pessoas com ar de presunção!

    Cara, valeu mesmo pelo ótimo comentário!

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  4. Manu,
    Concordo contigo em genero, numero e grau. Se (hipoteticamente) há algum sentido no natal, e se este sentido é a celebração do nascimento do salvador, então há muito não se comemora um natal genuíno.

    Forte Abraço!

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