9 de set. de 2008

Monogamia é mais interessante

Eu nunca consegui envolver-me no burburinho geral daquela nova geração contra a monogamia, porque nenhuma restrição imposta ao sexo parecia-me tão estranha e inesperada quanto o sexo em si. Para mim (criado nos contos de fadas como ele) obter permissão, como Endímion, de fazer amor com a lua e depois queixar-se de que Júpiter mantinha as suas próprias luas num harém parecia anticlimático e vulgar. Restringir-se a uma única mulher é um preço pequeno diante do simples fato da visita a uma única mulher. Queixar-se de que eu só poderia casar-me uma vez era como queixar-me de ter nascido uma só vez. Era algo desproporcionado em relação à terrível emoção de que se estava falando. Aquilo mostrava, não uma sensibilidade exagerada, mas sim uma curiosa insensibilidade ao sexo. Louco é quem se queixa de não poder entrar no Éden por cinco portas ao mesmo tempo.

A poligamia é a falta da realização do sexo; é como quem apanha cinco pêras de uma só vez num mero gesto de insanidade. Os estetas tocaram os limites extremos da loucura lingüística em seus encômios às coisas belas. O cardo os levou às lágrimas; um besouro lustroso os fez cair de joelhos. No entanto, a emoção deles nunca me impressionou sequer por um instante pela razão seguinte: nunca lhes ocorreu pagar pelo prazer sentido com alguma espécie de sacrifício simbólico.

Os homens (eu sentia) poderiam jejuar quarenta dias para ouvir o canto de um melro. Os homens poderiam passar pelo fogo para encontrar uma prímula. No entanto, esses amantes da beleza não conseguiam sequer manterem-se sóbrios pelo melro. Eles não passariam pelo casamento cristão comum como forma de recompensa pela prímula.

G.K. Chesterton,
‘Ortodoxia’, p. 95 e 96 [via Amando ao Próximo]

Um comentário:

  1. Dialogando sobre Tom Whright:
    http://cristomarques.blogspot.com/2008/04/nt-wright-e-sua-posio-sobre-sexualidade.html

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