30 de nov. de 2007

Vingança

Como diz o sábio sr. Madruga: "A vingança nunca é plena; mata a alma, e a envenena!".
A vingança é um sentimento intrínseco ao ser humano, não há o que discordar. Desejamos a vingança quando nos vemos prejudicados por um ente, um indivíduo ou grupo qualquer. Desde que estes tenham nos causado algum mal sentimo-nos injustiçados. Parece que a vingança fala de justiça. De equiparar as casualidades entre os envolvidos. Tantos quantos tiveram a oportunidade de vingar-se ao menos uma vez na vida, sabem que realmente é, deveras, uma realização doce. É quase um alívio! Um gozo! Alguns chegam ao êxtase! Mas, todos estes concordaram que o doce torna-se em amargo. A consciência interfere e acaba com a festa. Justificamos nossa vingança invocando a justiça. Vingança é uma questão ética há muito discutida pela humanidade.
Sobre as bases morais, psicológicas e culturais da vingança o filósofo Martha Nussbaum escreveu: "O senso primitivo do justo — notadamente constante de diversas culturas antigas a instituições modernas . . . — começa com a noção de que a vida humana . . . é uma coisa vulnerável, uma coisa que pode ser invadida, ferida, violada de diversas maneiras pelas açoes de outros. Para esta penetração, a única cura que parece apropriada é a contrainvasão, igualmente deliberada, igualmente grave. E para equilibrar a balança verdadeiramente, a retribuição deve ser exatamente, estritamente proporcional à violação original. Ela difere da ação original apenas na sequência temporal e no fato de que é a sua resposta em vez da ação original — um fato freqüentemente obscurecido se há uma longa sequência de ações e contra-ações".
A violência, o homicídio, os estupros e as chacinas constantemente noticiadas no Brasil e no mundo deixam-nos em estado de choque. Particularmente, tenho andando muito indignado com toda essa crueldade humana deliberadamente solta por aí. São casos que nos deixam sem palavras. A única coisa que nos arrebata a mente é que tais desertores, homens cruéis, deveriam pagar todo o mal que causaram com a mesma moeda. Como cristão, ciente da doutrina de Jesus, sinto quase que um sentimento de revolta diante de tão 'absurda' graça.
As vezes, desejo que o nosso Deus haja como hagia no Antigo Testamento. Imagine só, você -um levita- estar peregrinando rumo a Casa de Deus com sua mulher e aceitar com gratidão a hospitalidade de um bom cidadão de uma cidade, da qual precisa pernoitar antes de seguir viagem. E durante a noite, um grupo de homens cercam a casa e exigem que o anfitrião entregue o hóspede para que seja estuprado e violentado por eles. O anfitrião tenta negociar sua filha virgem e a mulher do hóspede para não desonrar sua hospitalidade - fala sério! Que cultura!?. Enfim, os vagabundos levam a mulher do hóspede. Ela é abusada, violentada e estuprada pelo grupo de forma desumana e brutal durante toda a noite até o amanhecer. Depois, a abandonam deploravelmente, e esta consegue chegar até a porta da casa onde hospeda seu senhor, o levita, e morre, enfim, agarrada ao limiar da porta. Quando leio esta história - Juízes 9-20 - posso sentir a revolta e o desejo de vingança deste homem. O interessante é que essa maldade foi vingada e tornou-se em guerra. Todo um povo tomou as dores de um homem e declarou guerra ao povo do qual pertenciam aqueles desgraçados. Leio esta história com certo gozo. Com alívio! Tenho a impressão de que justiça foi feita. E com patrocínio de Deus!
Para nós cristãos, dependentes e salvos pela graça de Cristo, tal empreitada seria desobediência total às palavras de nosso Senhor. Deus não mais nos acompanhará em nossas vinganças pessoais ou sociais. E nos consola com a certeza de que a vingança pertence a Ele somente. Resta-nos, amar nossos inimigos ( mesmo o pior deles?!), voltar a face em vez de revidar (mesmo quando estupram uma criança?!), e permitirmos que o Único que não tem pecado algum possa, de fato, atirar pedras em alguém...

Um comentário:

  1. As vezes, mesmo sabendo que Ele não
    agiria dessa forma conosco, agimos
    de forma vingativa para com o outro.
    É meio inaceitável que Deus possa
    perdoar alguém que nos machucou
    tanto. "Não, ele merece sofrer
    tanto com eu!". Falta graça em
    nossas ações...

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