12 de fev. de 2008

A Fé é mais importante que a Teologia

"Amo a Teologia da Libertação e a seguirei amando, mas lembremos que o que nos une é Jesus Cristo". Com essa afirmação o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, um dos mais importantes nomes da Igreja latino-americana nas últimas décadas, rebateu as afirmações de que teria chegado ao fim a contribuição dessa corrente.

"A Teologia da Libertação não faz parte do meu credo. Eu não creio nela, creio em Jesus Cristo", disse.

Gutiérrez foi o principal palestrante da sessão da manhã desta quarta-feira, 30, na Conferência sobre o Cristianismo na América Latina e no Caribe, realizada na Faculdade Batista e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ao ser chamado à mesa que conduzia os trabalhos, o teólogo foi longamente aplaudido de pé por uma platéia de cerca de 700 pessoas.

A plenária buscava recuperar a memória da caminhada cristã no continente, e Gutiérrez o fez a partir da afirmação de que "a memória é o presente do passado". O autor recordou que, no século XVI, Guamán Poma, cristão quíchua, caminhou por 30 anos entre os pobres das comunidades andinas testemunhando o sofrimento, o desprezo e a opressão em que viviam.

A partir do que viu e refletiu, Poma escreveu uma longa carta ao rei Felipe III da Espanha, na qual dizia que Deus se fez homem verdadeiro e pobre e se encarnou no mundo dos pobres. Sem entender o porquê da situação vivida pelos indígenas, Guamán clamava por Deus, assim como Jó no Antigo Testamento.

"Esse cristão, com seu interesse de conhecer os pobres de Jesus, encontra perguntas às quais não tem respostas, assim como nós hoje", comparou Gutiérrez. "Há 40 anos, saímos na América Latina e no Caribe à procura dos pobres de Jesus Cristo. O processo não terminou e ainda estamos nele", destacou. Para o autor, é necessário compreender a distância que há entre "as nossas impaciências e os processos históricos".

A Teologia da Libertação, segundo Gutiérrez, fez contribuições decisivas ao anunciar que a pobreza é um mal e possui causas que vão além dos aspectos econômicos e sociais. "A pobreza passa a ser vista não como destino, mas reflexo; não como infortúnio, mas injustiça", assinalou.
"A pobreza é um escândalo que continua gritando num continente majoritariamente cristão", disse. Para chamar a atenção sobre os problemas vividos pelos países da região, o sacerdote chegou a fazer uma ironia: "Se Franz Kafka, com todos os absurdos que escreveu, fosse latino-americano, seria considerado um autor de costumes".

Mesmo afirmando que não crê no esgotamento da Teologia da Libertação, que desenvolveu e desenvolve vertentes relacionadas às questões de gênero, raça, cultura e outras, o sacerdote peruano destacou que não se pode confundir fé com teologia. "Esta é um instrumento para compreender e esclarecer coisas", definiu, "mas o coração da mensagem de Deus é a gratuidade do amor."

"Somos amados porque Deus nos amou primeiro, e todo amor é resposta ao amor de Deus", disse, acrescentando: "Quando estamos alegres, procuramos alguém com quem dividir a nossa alegria. Devemos compartilhar a alegria de sermos amados por Deus", finalizou.

A sessão continuou com a participação da teóloga mexicana Elza Tamez, professora da Universidade Bíblica Latino-Americana, e de Diego Irarrazaval, presidente da Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo.

Elza Tamez leu um texto que escreveu em forma de epístola paulina, cuja autora seria "Priscila, serva de Deus não por desígnios de autoridades, mas por vontade de Deus". Nela, também contesta a tese de esgotamento da Teologia da Libertação ao perguntar: "Acaso os pobres deixaram de existir? Já têm onde dormir? O que comer? As crianças de rua já têm escola?"

A teóloga protestante centrou sua memória da caminhada cristã no continente na análise do papel da mulher nas igrejas e na necessidade de reconhecer a riqueza da contribuição vinda dos povos originários e afros. "São rostos morenos de Deus, que expressam o que o seu coração diz sobre esse Deus singular ou plural", destacou.

Diego Irarrazaval lembrou que comunidades cristãs da África e da Ásia também iniciaram novas reflexões teológicas nas últimas décadas a partir de suas próprias realidades, mirando-se no exemplo dos latino-americanos.

"O cenário teológico é plural, mas ainda temos que avançar na inter-relação entre essas expressões, deixando-nos interpelar por elas e crescendo em novas compreensões graças a essa multiplicidade", disse.

Fonte: ALC [via Notícias Cristãs]

3 comentários:

  1. Se você capturou a notícia de meu blog, é de bom alvitre fazer a citação da fonte original mais a fonte que você pgou, pois algumas notícias eu edito, ok? Então no caso ficaria assim: Fonte: ALC/Notícias Cristãs.

    Obrigado.

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  2. Ah! Dá uma olhadinha lá no No´ticias Cristãs. Coloquei seu banner lá...

    Obrigado por me referenciar em sua página.

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