9 de abr. de 2009

O que é Reino de Deus para você?


Em conversa com meu cunhado, que está lendo A mensagem secreta de Jesus de Brian McLaren, falamos sobre o conceito de "Reino de Deus". Então, perguntei-lhe, em virtude da leitura, qual a idéia de "Reino de Deus" que carregava antes e que definições ele tem assimilado através do que McLaren disserta no livro.

Ele explicou que sua visão de "Reino de Deus" moldava-se no senso comum de que quando morremos haverá um Céu esplêndido e inefável, com anjinhos sobrevoando os ares, onde fixa-se uma paz jamais experimentada e coisas similares que compõem o imaginário da maioria cristã. Entretanto, agora percebe que a idéia de "Reino", a respeito da qual Jesus pregou, difere bastante dos contos apocalípticos que tendemos a ouvir dentro das igrejas. Passou a compreender um "Reino" subversivo, participativo e penetrante.

Os dois chegamos à uma conclusão. A exemplo do que Jesus disse, o "Reino de Deus" está em nós. O que implica no fato de que, se estou no trabalho, carrego o "Reino" comigo; se estou na faculdade, lá também levo o "Reino de Deus"; se em casa, o "Reino" ali estará em mim. Somos agentes desse "Reino" que infere no mundo por meios não convencionais. Outros reinos experimentaram a conquista de outros por meio da violência, da guerra, do poder e da tecnologia que ostentavam. Contudo, o "Reino" que Jesus vem compartilhar contraria estas prerrogativas inerentes a qualquer reinado com vistas à expansão de seu governo.

O "Reino" do Pai não é físico... não podemos apontá-lo ali ou acolá. Seu governo não estabele-se na figura de um só homem, de um só líder de todos. Não há nenhuma autoridade competente. Apenas Cristo é Rei. Desde o momento em que aposso-me do ensino de Cristo e permito-me ser transformado à Sua imagem e Semelhança, através do Evangelho, passo a penetrar o "Reino de Deus" em minha vida e, consequentemente, na vida das pessoas que me cercam. Tal influência não diz respeito à moralidade do outro. Muito menos diz que sou eu o embaixador da boa conduta, conduzindo-me à uma postura legalista. McLaren explica:

"Pode ser que tenhamos pressionado as pessoas a serem boas ou moralmente firmes, corretas ou ortodoxas para que evitassem o inferno após a morte, mas não as inspiramos com a possibilidade de se tornarem lindas e de frutificarem a fim de que a terra fosse curada nesta vida. Podemos tê-las instruído a como ser um bom batista, presbiteriano, católico ou metodista aos domingos, mas não as treinamos, desafiamos ou inspiramos a viver o Reino de Deus em seus empregos, na sua vizinhança, em suas famílias, escolas, clubes ou associações entre um domingo e outro.
Pode ser que tenhamos tentado fazer com que se 'comportassem' - sendo cidadãos tranqüilos de seus reinos terrenos e consumidores ativos com suas economias terrenas - mas não os estimulamos e inspiramos a investir e sacrificar seu tempo, sua inteligência, seu dinheiro e sua energia na causa revolucionária do Reino de Deus. Não, muitas vezes Karl Marx é que estava certo: usamos a religião como uma droga, de modo que pudéssemos suportar as terríveis condições de um mundo que não é o Reino de Deus. A religião se tornou nosso calmante para que não ficássemos tão indignados com a injustiça. Nossa religiosidade, portanto, nos ajudou, e favoreceu os que estavam no poder e que não queriam mais nada além de conservar e preservar a posição injusta que lhes era tão lucrativa e confortável.

O que aconteceria - fico imaginando sentado ao contemplar os magníficos vitrais de uma das catedrais de Praga, Viena, Londres ou Florença - se provássemos novamente as boas notícias de Jesus - não como um calmante, mas como um vibrante, potente e novo vinho que nos enchesse de gozo e de esperança de que um mundo melhor é possível? E se, inebriados por esse novo vinho, lançássemos fora nossa inibição e de fato começássemos a agir como se realmente o Reino escondido, porém real, de Deus estivesse próximo, à mão?"
A mensagem secreta de Jesus, Brian D. McLaren


O que entendemos? O "Reino de Deus" não configura uma realidade distante e pouco provável. A Eternidade começa aqui e agora na medida em que vou aderindo à vontade do Pai no meu contexto de vida. Mas, esse "Reino" não pode ser verificado nos moldes dos governos que conhecemos. Esse "Reino" não tem nada a ver com marchas para Jesus, campanhas de evangelização, ou avivamentos extravagantes. Isso não é "Reino de Deus", é a igreja esvaindo sua energia com tradições, costumes e movimentos que não têm nenhum efeito sobre o Erro.

"[...]Seu Reino não se trata de um show. Não se trata de volume alto de som e de um espetáculo espalhafatoso e reluzente, ou de impressionantes formas externas. Pelo contrário: aparenta bem menos do que é na realidade, secreto, por trás dos palcos e cenários. Suas recompensas não vêm através de desempenho público, mas de vigorosa prática em segredo. Semelhantemente, ele [Jesus Cristo] diz, nossa riqueza deveria também estar por detrás das cortinas; deveríamos "acumular tesouros nos céus" [...]"
A mensagem secreta de Jesus, Brian D. Mclaren

O "Reino de Deus" começa aqui entre nós, os que celebramos o dom da vida abundante de Cristo. Começa com o amor divino expresso em cada atitude ou palavra que procede de cada um de nós. Como Dallas Willard muito bem define, o "Reino em nós" é uma grande "conspiração Divina". Quando escolhemos abandonar o erro e direcionamo-nos à boa, perfeita e agradável vontade do Pai, passamos a colaborar efetivamente com essa "conspiração".

E ao contrário do que muitos pensam, ninguém vai para o Céu.

“A gente não vai para o céu. É o oposto: o céu é que nos entra, pulmões adentro. A pessoa morre e é engasgada em nuvem.” (Mia Couto, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, pág. 163)[via Liberdade pela Graça]

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10 comentários:

  1. Olá!

    Estou aproveitando este espaço para divulgar meu blog "Salvos Pelo Amor!"

    Não deixem de conferir!

    Abraço.

    http://salvospeloamor.blogspot.com/

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  2. Cara, isso tudo faz mais do que sentido. É uma pena que as pessoas que pensam dessa forma geralmente não sejam bem vistas pelos "igrejeiros": parece que é um pecado ver a vida como boa, apesar de que eu sei que Deus não prometeu que ela seria sempre assim.
    Gosto muito de uma música do Oficina G3 que diz "Como posso conquistar o céu, se nem sei viver aqui?".
    Acredito que o elemento mais importante do céu não seja o lugar em si, mas a presença de Deus. Ou seja, se temos vivido parte da presença Dele, não seria nenhum exagero falar que, de certa forma, o Reino de Deus está em nós.
    Não entendi bem quem é o autor do texto, mas coloquei ele no a.C. Revolution, ok?
    Tudo de bom pra você, Thiago!
    T+!

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  3. Oi, Patrick... obrigado pelo comment!

    O texto é meu mesmo - rs. Geralmente, quando é de outra autoria, coloco a fonte ou mesmo o nome do autor. Quando não coloco nada, é porque o texto é minha culpa - rs.

    Obrigado por replicar... Um grande abraço! Deus te abençoe e Feliz Ressurreição pra você!

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  4. Thiago, muita coisa do que li neste texto me lembra pensamentos meus. Viver o evangelho, viver o amor e ter a vida eterna, ou melhor a Vida dentro de si, ter Jesus dentro de si e também estar nEle; em tudo isso acredito, pelo que li na Bíblia (1 João traz uma boa explicação disso), porém, ponho o meu pé bem atrás quando você diz que ninguém vai para o céu e quando fala que é possível que este mundo se torne melhor. Como este mundo pode se tornar melhor, se o trigo continuará crescendo junto do joio? Como o mundo pode ser perfeito antes da colheita? A morte ainda não foi lançada no lago de fogo, nem Satanás, que ainda está por aqui, neste mundo. Como é possível que este mundo seja bom, mesmo que agora haja filhos de Deus vivendo a plenitude do reino antes da transformação de seus corpos perecíveis em corpos incorruptíveis, se Satanás ainda está solto, se Jesus ainda não voltou? E quanto ao novo céu e a nova terra de Apocalipse 21? E quanto a 1 Coríntios capítulos 13 e 15?
    Com certeza, esse mundo não vai poder se o lugar da perfeição, ainda que haja agora mesmo filhos de Deus vivendo o evangelho. É preciso que haja a transformação e também a condenação de Satanás de seus filhos.

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  5. Monique, é justamente com base no final do livro de Apocalipse, do capítulo 21 em diante, que corroboro a idéia de que não "vamos para o Céu". "O Céu virá até nós".

    Ademais, as Escrituras estão cheias de promessas de que os justos, mansos, puros e humildes herdarão a Terra.

    Creio que Deus tem um carinho enorme pela Criação, por isso ele fará com ela o que fará conosco. Todos seremos transformados da corruptibilidade para a incorruptibilidade. Ora, receberemos nova essência, novo corpo, tanto quanto o céu e a terra serão feitos novos. Isso mostra que a exemplo de quando Deus ao invés de visitar o homem no Éden, seu desejo é fazer morada com o homem.

    A Cidade Celestial é que descerá para cá, a terra e o céu renovados, incorruptíveis, transformados serão habitação do Todo-poderoso, o Criador.

    Um abraço!

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  6. No fundo, isso não faz tanta diferença, se o céu vai descer, ou se vamos subir; e a cidade santa vai descer para a Terra mesmo, como diz Apocalipse, mas não foi isso que eu quis combater. O que eu queria saber aqui é se esse texto falava de algo anti-bíblico: a idéia de que o céu é como um estado pessoal de espírito. É a idéia de que, simplesmente por boas ações e pelo amor nos corações dos homens, a Terra possa se transformar ao ponto de que a vida na Terra atual, envolta em pecados, possa se tornar o céu. Isso é como a canção "Imagine", de John Lennon, o que não vejo como possível e não é bíblico. É preciso que haja a colheita, antes de sermos transformados para vivermos no céu, pois o céu não será como um estado de nirvana atingido individualmente, por cada um que evolua por si próprio a tal ponto. Só poderemos viver no céu por causa da graça de Deus.
    Abraço!

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  7. Monique, Jesus findará toda boa obra que começou em nós. Infelizmente, muitos crentes com a mentalidade de que esse mundo é ruim, que tudo vai pelos ares mesmo e que só quando Cristo nos transformar é que tudo estár muito-bem-obrigado, acabam por procrastinar o "desenvolver da Salvação", como Paulo exorta. Cristo veio instaurar o Reino de Deus aqui que começou Nele mesmo e deve dar prosseguimento em nós, os santos, a Igreja. O processo de instalação do Reino de Deus já começou e somos chamados a ser transformados dia-a-dia até que venha o nosso Senhor e nos torne perfeitos.

    E esse processo que já começou em Cristo é possível e desenrola-se nesse mundo afundado no pecado. É nele que age o Espírito Santo, através de nós. Essa vai se tornar o céu - habitação de Deus com os homens - através do amor e boas obras que são consequências das pessoas nascidas do Espírito, imitadoras de Cristo, membros do corpo de Jesus. Não há mágica, nós somos o meio de mudança. E tudo que fizermos nesse sentido, vindo pela Graça e obra do Espirito em nós redundará em ações, caráter e vontade de mudar o mundo até que o Grande Arte Finalista complete a obra que começou em nós.

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  8. Thiago, estava concordando com seu texto até que cheguei ao penultimo parágrafo. Qualquer pessoa que tenha uma visão real do evangelho de Jesus, sabe que o reino de Deus começa e está aqui e em nós, mas isto não quer dizer que permanecerá aqui. A bíblia relata em diversas ocasiões que Jesus SUBIU aos céus:
    Ef 4,8-10:8 "Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens.
    9 Ora, isto-ele subiu-que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra?
    10 Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas."

    Poderíamos interpretar este "subir" com uma conotação metafórica, como se fazendo uma distinção de níveis, porém, depois da crucificação, a bíblia relata claramente Jesus subindo aos ares para estar a direita do Pai.

    Antes de ser crucificado, Jesus falou sobre IR preparar lugar e depois VIR, para nos levar, portanto, meu caro, essa sua teoria aí, para quem quer se basear na bíblia, é papo de quem ta por fora.
    Jo 14:
    "2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.
    3 E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também."
    ... Mas querer ficar também é um direito seu, se quiser! rs!
    Saudações Palmeirenses!

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  9. Lucas, não estou decretando nada... é o que creio... e o que leio na Bíblia. Não estou dizendo que você está por fora da Bíbla. Não acho isso muito justo! Todos nós caminhamos, cada um a seu passo, rumo ao mesmo fim, assim espereo. E posso estar errado e, descobrirei uma hora ou outra... e você pode estar errado. A idéia é edificarmo-nos uns aos outros.

    Mas, se pesquisar bem verá que no fim das contas a Cidade Celestial, a Nova Jerusalém, a "morada de Deus", o Céu, descerá sobre a Terra... e Deus fará morada com os homens, no novo céu e na nova terra.

    Medite no final do livro de Apocalipse, capítulo 21 em diante... lembre das várias promessas ao longo da Bíblia que dizem que os justos herdarão a Terra... reinarão com Cristo, etc...

    O problema é que essas promessas foram distorcidas pela mentalidade da "prosperidade", enfim...

    Um forte abraço e que o Espírito nos guie!

    Abraço!

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Fico muuuuuuuito feliz com a iniciativa de deixar seu comentário. Aqui você pode exercer sua livre expressão e opinião: criticar, discordar, concordar, elogiar, sugerir... pode até xingar, mas, por favor, se chegar a esse ponto só aceito ofensas contra mim (Thiago Mendanha) e mais ninguém, ok? rs