15 de mai. de 2008

Novidade religiosa

Para o cristianismo, o ser humano não se salva sozinho, mas pela ação da graça de Deus. Para as tradições orientais, cada um é sujeito da própria salvação ou purificação, devendo retornar a este mundo até que as sucessivas reencarnações o façam alcançar o estado de perfeição espiritual.
A modernidade introduziu a democracia na vida social. A Igreja manteve a sua estrutura hierárquica, autocrática. Mas, do ponto de vista do indivíduo, fê-lo centrar-se no próprio umbigo. Introduziu a meritocracia no lugar da redenção operada por Jesus. Valorizou penitências, promessas, indulgências, como se apenas o mal ou o bem que cada um pratica decidisse a sua perdição ou salvação.

A modernidade cristã acabou criando, no Ocidente, paradoxalmente, o caldo de cultura favorável à expansão das religiões orientais. Há, atualmente, uma busca voraz de espiritualidade, mas sem a mediação de sacerdotes e bispos, preceitos morais e sacramentos.
Na disputa pelo mercado da crendice, a Igreja católica corre o risco de ser levada pela onda e adotar o modelo subjetivista, onde o Credo é substituído pela letra de uma canção e a liturgia por movimentos aeróbicos. Tudo se transforma numa grande efusão espiritual que embevece, alucina, desata nós do psiquismo (daí o caráter terapêutico, as curas) e traz a alegria às multidões, sem que o Evangelho seja anunciado, refletido, aprofundado, assumido e vivido enquanto fermento na massa.
Neste início de século e de milênio, muitos fazem com a religião o que se fez com a moda na década passada: uma mescla de crenças e ritos, como o cristão que pratica meditação transcendental e acredita em reencarnação.

Frei Betto [via Celebrai]

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