24 de mar. de 2009

O colapso do evangelicalismo


O que vai e não vai sobreviver deste movimento.

A internet está alvoroçada com a última previsão sobre o próximo colapso evangélico. Esse é o conteúdo de três artigos postados no blog Internet Monk (de Michael Spencer), que previu um colapso em dez anos. Após seus pensamentos serem tomados e condensados pelo Christian Science Monitor e pelo Drudge Report – bem, você pode imaginar a agitação eletrônica.

O título do artigo de Spencer estraga a sua finalidade, apesar disso, muitos detalhes são interessantes. Fiz muitas observações como essa nesta coluna. Por exemplo, Spencer escreveu, “Imaginar o evangelicalismo* como um todo para ser observado mais e mais como um pragmático, terapêutico, crescimento planejado da Igreja, por mega igrejas que têm determinado o sucesso. A decisão de seguir os passos metodológicos de tantas igrejas de sucesso será maior do que nunca. O resultado será, principalmente, um afastamento da doutrina para enfatizar mais e mais o importante, a motivação e o sucesso pessoal”. Minha única advertência aqui é para saber se essa é uma realidade futura ou atual.

Incito algumas previsões até por causa da minha própria propensão, mas, no fim de tudo, elas não parecem estar baseadas em nada substancial. Por exemplo, “Dois dos beneficiários do próximo colapso evangélico serão a Igreja Católica e as comunidades Ortodoxas. Os evangélicos têm continuamente penetrado nessas igrejas nas ultimas décadas, e essa tendência vai continuar”. Spencer adicionou o anglicanismo como beneficiário. Como um anglicano, eu gostaria que isso fosse verdade. Mas, para mim, a quantidade de evangélicos introduzidos nessas comunidades não é tão grande como o número de pessoas que as deixam por causa da fé evangélica. Não conheço nenhum estudo que possa medir esse fenômeno detalhadamente. Então, devemos simplesmente discutir nossas impressões.

Como membros de qualquer movimento, nós evangélicos gostamos de fazer algumas introspecções. Quem somos nós? O que há de errado conosco? Para onde estamos sendo conduzidos? Isso pode facilmente se transformar em um movimento narcisista, e é por isso que, em meio às discussões, devemos lembrar a nós mesmos de algumas outras realidades.

Tem muita forragem aqui para uma reflexão proveitosa, se mantivermos em mente as advertências que o próprio Spencer mencionou: ele não é um profeta, nem um filho de profeta. Ainda digo mais: Ele nem mesmo argumenta o seu julgamento; apenas expõe suas conclusões repetidamente. Diz que o evangelicalismo vai sofrer um colapso em dez anos, mas não oferece uma partícula de evidência que sugira porque essa sua agenda é aceitável.

Apesar de toda nossa influência cultural e impacto religioso, os evangélicos “são consideradas por ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das balanças... [os evangélicos] são como nada perante ele; ele os considera menos do que nada e como uma coisa vã”. Essa citação de Isaías 40:15-17, faz referencia às “nações”, mas se aplica melhor às “nações evangélicas”. Os movimentos de Deus – os pais do deserto, o monasticismo, o Grande Avivamento, e assim por diante - vem e vão.

O que conhecemos como evangelicalismo é uma expressão cultural temporária da fé cristã. Isso surge com idiossincrasias, boas e ruins. Isso produziu o ativista do Religious Right, Jim Dobson, e o zeloso moderador escolar, Mark Noll. Por causa de suas editoras é que vieram livros como Deixados para trás e O conhecimento de Deus. Isso provou que eles são pessoas de mente-fechada, julgadores, legalistas, tanto quanto generosos, sacrificais e heróicos (penso principalmente no trabalho evangélico com a AIDS e com o tráfico sexual hoje em dia). Algumas vezes, eles parecem estar totalmente desconectados da nossa cultura, outras vezes parecem estar totalmente atualizados (usamos rádio, Tv, Internet).

Como qualquer movimento, religioso ou não, o evangelicalismo tem incorporado certos aspectos da cultura onde ele existe. Porque isso existe nas contingências da história, ele não se ajuda, mas liga a si mesmo alguns temas culturais enquanto luta contra outros. Embora haja uma liberdade socialmente apoiada nesse movimento, o evangelicalismo tem, na maior parte das vezes, se fixado nas campanhas pró-vida, na tradição da família, na responsabilidade pessoal. Spencer, entre outros, diz que tanta identificação levará o movimento ao seu colapso. Futuramente, talvez, mas só depois que boa parte da nossa cultura rejeitar tantos temas. É difícil imaginar isso ocorrendo em dez anos.

Enquanto alguém pode descrever o evangelicalismo nessa visão social, em outro sentido, o movimento é uma construção intelectual, uma tentativa de unir uma quantidade de indivíduos e organizações sob uma bandeira social e teológica. Isso ajuda sociólogos a predizerem a disposição de uma eleição e a marqueteiros a definir o preço do produto de um determinado grupo. O que não significa que não há uma associação entre essas pessoas, ou que essas pessoas não se identifiquem entre si. Pode significar que não queremos igualar a construção intelectual com a complexa dinâmica de se estabelecer em um local.

Uma dessas dinâmicas é formada pelos evangélicos em ação, pelo menos nos nossos melhores momentos, que se preocupam menos com o “movimento”, e mais com o “Evangelho”, as Boas-Novas de Jesus Cristo. Se a constelação de indivíduos e grupos que constituem a cultura evangélica desaparece, muitos de nós iríamos rapidamente progredir. Porque sabemos que isso seria um sinal do fim do evangelicalismo.

Como editor-geral da Christianity Today – cujo cabeçalho diz: “A revista da convicção evangélica” – pode-se sugerir que tenho um grande interesse na sobrevivência do evangelicalismo. Sim e não. Por um lado, como estudante da história da igreja posso prever que a cultura evangélica vai entrar em colapso, provavelmente não em dez anos, mas o colapso vai acontecer. Por outro lado, o evangelicalismo nunca vai entrar em colapso, não até a última chamada.

Isso porque evangelicalismo descreve um fenômeno que transcende tempo e lugar. O historiador britânico David Bebbington fala sobre isso em termos de comportamento e de um aspecto teológico. Vejo isso como sendo mais que uma disposição religiosa. É uma sensibilidade espiritual que inclui pessimismo sobre a natureza humana, desejo de ser transformado no que há de pior dentro de nós, momentos sobrenaturais quando Jesus é experimentado, uma convicção de que nada pode ser redimido sem sofrimento e que a ressurreição é a última realidade, e uma paixão para fazer a diferença no mundo.

Nesse sentido, a história da fé cristã é formada por evangélicos, desde Paulo até Antônio do deserto, desde Francisco de Assis até Teresa de Ávila, desde os movimentos monásticos até os encontros nos campos, desde a Associação evangelística Billy Graham até os Evangélicos para Ação Social.

O evangelicalismo, assim entendido, não vai entrar em colapso.

Certamente, aqueles que se identificam intimamente com o evangelicalismo americano vão sofrer pela morte do movimento – da mesma forma como sentimos pela extinção de qualquer outra subcultura. Mas não fazemos parte de uma sociedade para a preservação evangélica, e com certeza não vamos nos unir a nenhum grupo que diz que temos que reformar o movimento evangélico ou morreremos.

O que vou fazer, até o fim dos meus dias, é trabalhar com alguém que sabia que estava perdido, mas agora foi achado, cuja bíblia está gasta por ter procurado Deus repetidamente nela, que considera a cruz o mais significativo dos símbolos, para quem a ressurreição não é apenas uma doutrina, mas um poder, e quem quer achar uma nova e criativa forma de compartilhar Jesus por palavras e obras. Vou trabalhar com essas pessoas, não importa do que os estudiosos as chamem.

Por enquanto, eles são chamados de evangélicos e suspeito que, de uma forma ou de outra, ainda estarão por aí durante um bom tempo.


*Evangelicalismo é uma concepção originária de “evangélico”. É um movimento teológico originário do Protestantismo, mas que não se limita a ele, que crê na necessidade de o indivíduo passar por uma experiência de conversão (“nascer de novo”, “aceitar Jesus”) e que adota a Bíblia como única base de fé e prática.


fonte: Cristianismo Hoje


P.S.: Existe um livrinho chamado Revolução escrito por George Barna. É bastante interessante para quem se interessa com prognósticos sobre o quadro futuro da igreja.

3 comentários:

  1. Você sabe a historia do menino aí da foto?

    Se sim, vc foi deveras perspicaz.

    Se não, algo me diz que voce deve trazer esse relato para seus leitores.

    Momento mistério (?)!

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  2. Volney, não conheço a história desse menino da foto... rs

    mas, olhando bem... ele me lembra o Philip Yancey... rs... não é não?

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  3. Putz nem brinca - o cara era um super fake ... vamos traduzir e colocar legendado no youtube?

    Veja lá no meu pedaço de quem se trata a foto do rapaix aí!

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